Naqueles tempos primeiros,
uma história aconteceu
que ninguém pode esquecer:
era certo jovem louco
que a mulher do seu amor
um descuido fez perder.
Quando ela se foi,
deixando um estranho rastro,
da triste cor da saudade,
através da eternidade o seu grito
se perdeu:
- Não te vás, Felicidade!...
Era este o nome dela, daquela que lhe fugia:
Felicidade-Alegria-da-Paz-Que-o-Mundo-Não-Dá.
Desde então, numa descida pelo declive da História,
pelos vales, pelas serras, o infeliz repetia,
trêmulo de ansiedade:
- Onde estás, Felicidade?
Mas só o eco respondia:
- Dade, dade, dade...
- Guarda bem o teu dinheiro,
ajunta grande tesouro.
A mulher que tu perdeste,
só se entrega a quem tem ouro.
E o pobre abandonado, dia e noite, noite e dia,
de moeda em moeda, grande tesouro ajuntou.
E parece até que, um dia, do ouro, na claridade,
viu passar sua querida – a bela Felicidade.
Mas, quando estendeu os braços,
só o ar ele abraçou, e só o eco, pobre amigo,
ao seu grito – Onde estás, Felicidade? –
respondeu, com piedade:
- Dade, dade, dade...
- Estuda, pesquisa, domina toda a ciência,
torna-te uma celebridade.
Dia e noite, noite e dia, sobre livros e tratados,
dentro de laboratórios, o pobre se confinou.
E quando a sociedade, após anos de renúncia,
grande prêmio lhe outorgou,
pode ver perto de si a sua bela passar.
Mas, com um sorriso de piedade,
só o eco o ajudou quando, chorando, indagou:
- Onde estás, Felicidade?
- Dade, dade, dade...
- Arrebata multidões com teu talento e valor,
sem demora será tua a mulher de teu amor.
Sob as luzes da ribalta, entre aplauso e adoração,
quase chegou a sentir a mulher do seu desejo
ao alcance de sua mão.
Mas, quando o pano caiu e a solidão voltou,
outra vez sua pobre alma de angústia transbordou.
E só o eco repetiu o seu grito de saudade:
- Dade, dade, dade...
E assim buscou riqueza, saúde, glória, saber,
sem nunca nos braços ter
a sua meiga tão bela.
Contrito, reconhecendo a sua limitação,
tudo quanto possuía colocou sobre o altar
do Senhor da criação:
- Ó tu, que decides tudo,
devolve-me ao coração
aquela que meu pecado para sempre me roubou.
Só então, no céu de cinza,
fez-se doce claridade,
como a que ele conhecera, no passado,
num jardim.
E ele pôde ouvir, enfim:
- Eis-me aqui para ser tua.
Nem mesmo a própria morte de ti me separará:
eu sou a Felicidade, que tu perdeste um dia,
eu sou a tua Alegria-da-Paz-Que-o-Mundo-Não-Dá.
Até o eco repetia:
- Nada nos separará.
Deus me comprou com a sua vida,
sou a tua prometida
Felicidade- Alegria-da-Paz-Que-o-Mundo-Não-Dá.
Myrtes Mathias
1 comentários :
passei pelo seu cantinho,afim de desejar um otimo final de semana pra voce...
abraços!
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