30 de setembro de 2017

Yom Kipur (Dia do perdão)

Por Rab. Mess. Marcelo M. Guimarães




Nesta época (início do outono – Israel ou primavera – Brasil), os judeus do mundo comemoram a seqüência de festas típicas da estação de outono: o Rosh Hashaná (também conhecido como festa das trombetas), os 10 dias de Arrependimento (cujo último dia é conhecido como Yom Kipur, o dia do Perdão) e a Festa dos Tabernáculos ou festa da colheita (Sucôt).
Qual é a origem desses dez dias de arrependimento?
Em Levítico 23:24, encontramos uma ordem: “…No sétimo mês, ao primeiro dia do mês, tereis descanso solene, um memorial ao som da trombeta, uma santa convocação” . Após o exílio Babilônico, este dia do “soar da trombeta” tornou-se conhecido como Rosh Hashaná, o Ano Novo Judaico. Na Torá, tudo o que conhecemos é que é um dia de “fazer tocar as trombetas”. No livro de Salmos, encontramos referências interessantes (Salmo 81.3) “Tocai a trombeta na lua nova, na lua cheia, no dia da nossa festa”. Nesse Salmo encontramos o tocar da trombeta (Shofar, que é um chifre de carneiro) na lua nova, que é a primeira do mês, é também chamada “o dia de nossa festa”. O Salmo 81 traz à luz um outro aspecto tradicional dessa festa. De acordo com a tradição desse dia, Rosh Hashaná, que é o primeiro dia do sétimo mês, é também um dia que coroamos D-us como Rei de nossas vidas e da vida da nação. Entre o Rosh Hashaná, que é o primeiro dia do sétimo mês, e o dia da expiação (Yom Kipur), que é o décimo dia do sétimo mês, há um período de dez dias separados para o arrependimento e perdão dos pecados de Israel. Esses dez dias são como um período especial onde as pessoas se tornam mais cerimoniais e contemplativas acerca de seus pecados, num nível coletivo-nacional. D-us concedeu um dia para expiação dos pecados da nação. O bode expiatório que era enviado ao deserto era uma prefiguração do trabalho de Yeshua (Jesus) o Messias, que morreu na cruz pelos pecados do mundo inteiro. Por causa da solenidade que traz esse dia, tornou-se tradição tomar dez dias entre os dois dias santos para contemplação e arrependimento.
Os judeus, de modo geral, levantam bem cedo, antes do nascer do sol, e recitam orações e cânticos de arrependimento que expressam a profunda tristeza que cada indivíduo e toda coletividade tem pela fraqueza e pelos pecados que eles cometeram.
Não há nenhuma outra nação que gaste dez dias meditando acerca da expiação e perdão dos pecados como a nação de Israel.

No dia da expiação quase todo Israel e a comunidade judaica ao redor do mundo jejua. Ninguém come ou bebe, por um período de 24 (vinte e quatro) horas. Cada pessoa, que não esteja doente ou grávida, ou seja maior de doze anos jejua, abstém-se de comida e bebida por 24 (vinte e quatro) horas, isto aumenta a seriedade do dia no qual você contempla seus pecados e fraquezas. Os cultos nas Sinagogas geralmente acontecem na noite anterior, normalmente pela manhã bem cedo, e o último às 18:30 deste dia. Muitas pessoas permanecem na Sinagoga por 10 (dez) horas, para orar e suplicar a Deus pelo perdão do pecados.
A consciência de pecado ensinada pelo Rabino Shaul (Paulo) está provavelmente influenciada pelas orações do dia da expiação. Passagens como Romanos 7:24 “Desventurado homem que sou? Quem me livrará do corpo desta morte?”, podem estar influenciados pelas confissões do dia da expiação, que repetidamente enfatizam a fraqueza e a vulnerabilidade do homem.
Há um interessante comentário feito por Ibn Ezra, um comentarista bíblico judeu medieval, a respeito de Levítico 16.9-10. Ibn Ezra fixa seu comentário em Levítico 16.9: “Se você deseja conhecer o mistério do bode expiatório deve conhecer primeiro quem morreu na idade de 33 (trinta e três)…”. Não foi ele quem elaborou este ponto. Um comentarista posterior, um dos mais famosos Rabinos Judeus da era de ouro, do exílio espanhol, rabino Moshê Ben-Nachman, afirma neste verso: “Eu digo que o Rabino Abraham Ibn Ezra quis dizer, “a idade de 33…”: Esaú e o Reino de Edom”. Na terminologia judaica medieval, Esaú é Yeshua, e o Reino de Edom é o Império Romano. Assim, o Rabino Moshê identifica a pessoa de quem o Rabino Ibn Ezra estava falando como sendo Yeshua. Yeshua é o bode expiatório que leva os pecados de Israel sobre si no dia da expiação. É interessante ver rabinos que identificam o bode expiatório como Yeshua e ainda não acreditam n’Ele. A razão pela qual esses rabinos são capazes disso é porque eles viviam sobre a impressão errada que cristianismo é para gentios e não para Judeus.
A política da igreja católica em relação ao povo judeu apenas reforçou essa ideia errada. Yeshua, (Jesus) veio em primeiro lugar para o povo de Israel. Os cristãos têm a responsabilidade de orar pelas boas novas para o povo judeu, se não por outra razão, pelo fato de que eles receberam as boas novas dos judeus.
Qual é a aplicação disso tudo para os seguidores de Yeshua o Messias?
“Consciência de pecado” é talvez o tema mais pregado nos púlpitos das igrejas ocidentais. Arrependimento é certamente o maior princípio de todas as religiões bíblicas. Os cristãos freqüentemente pensam que são proprietários de confissões e arrependimentos, por fé e graça.
A verdade é que tanto no judaísmo quanto no islamismo, há sustentação de uma forte crença para o arrependimento. Há coisas que podemos aprender do judaísmo nos 10 dias de arrependimento.
1- Estabelecer um tempo para meditar acerca de seu “status” com Deus, sua necessidade de arrependimento e deixar que este tempo seja oportuno para se fazer um esforço concentrado.
2- Durante esse tempo separado para arrependimento, você deve levantar-se bem cedo e começar seus dias com uma confissão de pecados.
3- Há itens que exigem um arrependimento coletivo e, conseqüentemente, devem envolver toda comunidade no processo de arrependimento.
4- Embora o arrependimento seja de responsabilidade individual, é importante que as pessoas façam isto juntas, estabelecendo um tempo especial para isso.
Há algumas pessoas que desprezam essa idéia e dizem que devemos nos arrepender diariamente e instantaneamente quando nos surpreendemos em pecado. Mas, a verdade é que há muitos pecados que cometemos inadvertidamente e, sem ter consciência deles. Nós precisamos gastar tempo em nos concentrar como a comunidade judaica faz nos dez dias de arrependimento.
Para o povo Judeu que não acredita em Yeshua, o processo de arrependimento é complicado pelo fato de que há muitos textos bíblicos que são lidos os cultos do dia da expiação que mencionam a necessidade de sangue e sacrifício para a perdão de pecados. Aqueles que acreditam em Yeshua, o Messias, sabem que o sangue de bodes e touros não mais corre no altar para expiar os pecados de Israel, mas o sangue derramado por Yeshua por nossas transgressões está ainda disponível para expiar e perdoar e redimir os judeus de seus pecados. Minha oração neste ano é que durante estes dez dias de arrependimento o Senhor revelará ao Seu povo amado já proveu o cordeiro para expiação dos pecados. Por outro lado, minha oração é também para que o mundo cristão gaste tempo e avalie seus erros e pecados coletivos e individuais cometidos, e gaste mais tempo ainda re-aplicando o sangue de Yeshua que está ainda fresco e não seco, capaz de perdoar os pecados da humanidade.
Para entender mais sobre o YOM KIPUR, assista ao estudo do rabino Matheus: O YOM KIPUR E A CURA DA NAÇÃO.
Fonte:http://ensinandodesiao.org.br